Carcere

As vezes tenho vontade de chorar, só não deixo ninguém ver.

Fiquei anos sem derramar uma lágrima, cheguei a pensar que estava embrutecido meu ser.

Hoje acho que a torneira em meus olhos se abre fácil de mais ou talvez eu esteja mais emotiva do que era há dez anos atrás.

Muitas vezes, a sensação de impotência toma conta de mim... de nós e então, tento me conformar e à "eles" pensando:

_Somos humanos! Não somos "Deus" só ele é o único com o poder de mudar nossa vida, curar um enfermo, não podemos controlar ou entender os desígnios de Deus. Vamos ter calma, vamos orar e confiar!

A dualidade entre o amor de ter sua presença e o desapego da despedida é muito contraditória.

Quando te olho e tu estás dormindo, vejo aquele corpo inerte, os ossos protegidos pela pele sem firmeza, corro a me certificar de que ainda respiras. Então lentamente tu abres os olhos... e eles me pedem socorro.

Nada posso fazer pai, penso ....a não ser uma prece, pedir a Deus misericórdia por tão grande sofrimento.

Tenho me esforçado em tentar entender o que tenta dizer com esses olhinhos que já não aguentam o cansaço de uma vida de carcere.

O que será que tu pedes a Deus paizinho?

Lembro-me de um programa que ouvi no rádio há muitos anos, em que um padre disse:

"_Deus atende ao pedido daquele que sofre. Não necessariamente atenderá o pedido dos que o cercam, porque quem sofre é que precisa de alivio para sua dor!"

O que será que tu estás pedindo à Deus meu pai?

Imagino o quão grande é sua aflição, saber tudo que se passa ao seu redor, ouvir e entender tudo, lembrar a hora dos remédios, saber que a qualquer hora tu vais embora...consciente.

Tu, és hoje uma foto que respira e tem vida.

Peço a Deus que nos ampare, nos dê força e coragem para continuarmos nossa missão contigo, sem esmorecer meu querido.

Peço também que consigamos sorrir perto de ti, para que tu penses que não estamos sofrendo e quem sabe nós de um sorriso!

Mas seus músculos não permitem mais seu sorriso, sinto falta...de seu sorriso.

Hoje nem sei quanta falta sinto de ti pai, porque mesmo presente, tu morreste a nove anos.

Este corpo que tem vida e vemos todo dia, trocamos, viramos, banhamos e alimentamos, é um cartuxo que abriga sua alma.

Hoje paizinho tu não és mais um homem, mas um ser de luz, que firme está suportando sua purificação ou carregando sua cruz através da paralisia total de seu corpo.

Tu és muito corajoso pai, não é qualquer um que conseguiria viver estando encarcerado dentro de seu próprio corpo, teu espírito já é livre, e embora estejamos sempre contigo, tu estás sozinho e calado dentro de sua dor!



Por Sônia Regina