segunda-feira, 4 de julho de 2016

A guardiã

Ela corria pela floresta, precisava se esconder, 
estava ferida, haviam acertado de raspão sua perna. 
Escondeu-se atrás de uma enorme pedra que avistou a sua frente. 
Recostou-se ofegante, colocou o objeto que trazia 
protegido de encontro ao peito no chão, 
e apoiou sua cabeça sobre ele, assim o manteria seguro. 
Estava com a roupa que dormia na hora 
em que o castelo fora invadido.   Ela era só uma serviçal, 
estava no castelo desde criança,
com um único objetivo, reconquistar a liberdade de seu povo.
Só teve tempo de pegar o valioso objeto, o qual ela era a guardiã,
desde que os pais foram mortos defendendo sua posse.
Agora teria que esperar até que pudesse sair em segurança. 
O cansaço a fez adormecer ... acordou bom tempo depois, 
ouvia ao longe o barulho de vozes e o tropel dos cavalos.
Olhou para o tornozelo que doeu ao tentar se levantar,
seus cabelos estavam soltos e embaraçados, pés descalços.
Devia ter dormido um bom tempo, pois sentia sede, fome.
Percebia que se aproximavam, encolheu-se novamente 
com o objeto preso entre seus braços, os olhos fechados, rezava.
Esperou que passassem,  soltou a tensão dos ombros, 
respirou aliviada, levantou-se com dificuldade, 
sentia dor no tornozelo, apoiando-se nas pedras, 
andava com cuidado, parou ao ver um cão 
que a olhava e latia incessantemente, 
ela encarou os olhos do cão que se acalmou 
e sentou-se diante dela,  acariciou o animal em agradecimento. 
Sobressaltou-se ao perceber a presença de um homem... 
ele fez sinal para que ela ficasse calada, deu-lhe água 
e um pedaço de pão para comer enquanto limpava o ferimento
com algumas ervas que carregava na cintura, 
enrolou com uma faixa de tecido que desamarrou da testa, 
reforçou o sinal de silêncio, puxou seu cavalo 
e entregou a ela as rédeas do animal, afastando-se devagar, 
sem dar as costas pra ela,  até correr e sumir na trilha de terra. 
Deixou com ela o cão, ela ganhara um novo amigo e protetor!
Colocou o objeto na alça da sela, montou e saiu pela floresta
seguida pelo seu novo amigo. 
Já anoitecia quando ela chegou ao riacho,
soltou o cavalo para beber água, pegou o objeto da sela...
saiu em direção a um canteiro que havia a sua frente.
Seu coração estava acelerado, mesmo após tanto tempo,
ela lembrava exatamente  daquele lugar.
Chegou o momento que tanto esperou por toda vida, 
a partir de agora ela seria livre e seu povo também,
estava feliz,  havia cumprido a missão que o pai lhe dera..
Abrindo com cuidado o tecido de linho branco;
pegou o objeto, segurou-o diante do rosto, 
com  brilho nos olhos beijou a pedra que a adornava, 
A Espada...  hoje conseguia carregar o que já foi maior que ela!
Com satisfação colocou-a no local onde um dia foi retirada
pela violência, na luta pelo poder de escravizar um povo.
Este era símbolo de seu povo, a espada da justiça, 
símbolo da lealdade, e da igualdade de um povo simples, porém guerreiro.
Ela agora iria brilhar no lugar que merecia,  a paz e a liberdade
iria agora imperar, por muitos e muitos séculos sobre sua descendência ! 



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